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ISO 53800: norma mostra que é possível inovar em ações de equidade de gênero

Padrão internacional indica caminhos para fortalecer o empoderamento feminino no mercado de trabalho


09/01/2025 10:32
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Foto: AdobeStock

Lidar com a equidade de gênero é um grande desafio para os negócios, que precisam abandonar culturas antiquadas a fim de fomentar a liderança feminina. A diversidade, aliás, é capaz de impulsionar a inovação. Nesse cenário, a norma ISO 53800 surge para mostrar o caminho rumo às ações que promovem a equidade de gênero.

Há diferentes normas ISO que abrangem aspectos sobre produção, gestão de processos, serviços e outras áreas. A adesão a essas cartilhas é voluntária. As regras são construídas por especialistas de diferentes países e têm como um de seus objetivos colaborar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas).

A ISO (Organização Internacional de Normalização) possui 172 membros e estabelece padrões que norteiam os países-membros, incluindo o Brasil – representado na ISO pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Portanto, a ISO não existe somente para assegurar padrões de excelência sob o ponto de vista produtivo. Seu foco também é humanitário, com o intuito de promover equidade. Esse objetivo fica evidente na norma ISO 53800, maneira inovadora de promover o empoderamento feminino. Neste artigo, vamos conhecer mais sobre a ISO 53800 e as inovações em prol da equidade de gênero!

ISO 53800 e a equidade de gênero

Ao formular a norma 53800, a ISO fornece um padrão internacional de diretrizes para promover a equidade de gênero e o empoderamento feminino em diferentes tipos de organizações, como cooperativas, empresas mercantis e órgãos públicos. A meta é alcançar direitos, oportunidades e responsabilidades iguais para homens e mulheres, desvencilhando-se dos papéis sociais historicamente atribuídos aos sexos.

Os padrões da ISO 53800 foram desenvolvidos por especialistas de 62 países, sendo 38 participantes, 23 observadores e a França como propositora. O Brasil esteve entre os participantes ativos, contribuindo para a elaboração da metodologia. Ela não substitui regulamentações nacionais, e sim é uma espécie de mínimo denominador comum, com algumas nações adotando diretrizes mais ambiciosas.

A ISO 53800 promete proporcionar um melhor ambiente de trabalho, propício à inovação, colaborativo e com menor rotatividade, resultando em evolução na performance. Ainda de acordo com a norma, esse conjunto de diretrizes conduz ao desenvolvimento econômico e social e a uma melhor tomada de decisão por parte das lideranças.

A formulação de normas para estimular a equidade de gênero e o empoderamento feminino é necessária porque o cenário é altamente desigual na atualidade, apesar de avanços. As mulheres ganham somente 77% do salário pago aos homens em todo o planeta, segundo a ONU. Elas também recebem menos oportunidades profissionais, especialmente em posições de liderança – ocupando apenas 27,5% desses cargos no mundo –, e lidam com a distribuição desigual do trabalho doméstico e diferentes tipos de violência.

Inovando na promoção de igualdade de gênero

A estratégia adotada na norma ISO 53800 é criar um modelo sustentável para promover ampla compreensão sobre o problema e condições para resolvê-lo, encorajando as organizações a atuarem de maneira ativa pela transformação cultural.

O documento, comercializado pela própria ISO, se aprofunda em quatro áreas essenciais para a equidade de gênero: dimensão interna da organização, atividade e investimentos, relações externas e comunicação interna e externa.

Estão entre as indicações orçamento e investimentos adaptados por gênero, estímulo ao conhecimento dos stakeholders sobre as assimetrias, práticas de governança e ações de comunicação. O documento ainda inclui um guia de como prevenir, identificar e responder a casos de violência contra a mulher.

A ISO 53800 se destaca devido ao seu caráter pioneiro. Afinal, é a primeira norma internacional sobre o tema e oferece uma abordagem sistemática, com um plano de ação concreto que pode ser aplicado em organizações de diferentes portes. Medidas inovadoras e que alcançaram sucesso na prática ajudaram a embasar a formulação das diretrizes.

Caminhos para promover a equidade de gênero com inovação

Alcançar a equidade é um desafio que exige transformação cultural. É necessário alterar concepções sobre o papel social e de trabalho historicamente associado aos gêneros para construir um ambiente verdadeiramente inclusivo, diverso e com direitos e responsabilidades iguais para homens e mulheres.

Inovar é uma maneira eficiente de obter esses resultados. O desenvolvimento da cultura organizacional é impulsionado a partir de esforços da própria cooperativa. Do processo de contratação às práticas diárias, é essencial estar atento às tendências para implementar a busca pela equidade de gênero no DNA da organização.

Uso de tecnologia

A inteligência artificial é um dos temas do momento no mundo dos negócios, forçando organizações a reformularem seus processos para se manter na vanguarda do mercado. Um dos muitos usos possíveis para a tecnologia é em prol da equidade. A IA pode, por exemplo, auxiliar em sistemas de recrutamento e na tomada de decisões, atuando para eliminar vieses inconscientes sobre papéis de gênero.

A tecnologia também pode ajudar a organização a controlar seu progresso e a identificar desafios em direção à equidade. Relatórios automatizados e pesquisas trazem dados concretos para embasar investimentos, projetos e decisões institucionais.

Combate à violência doméstica

A violência doméstica é uma realidade que acomete milhões de mulheres no país. Segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, do Instituto DataSenado, 30% das brasileiras afirmam já terem sofrido esse tipo de agressão. Em 21% desses casos, por diferentes motivos, elas não procuraram ajuda, mesmo quando os atos violentos tornaram-se recorrentes.

Nesse cenário, uma organização pode ter papel significativo para amparar trabalhadoras vítimas de violência doméstica. Um programa com estrutura de apoio psicológico, canal de denúncia, capacitação de colaboradores para identificação de casos e comunicação clara e prioritária sobre o tema é uma maneira inovadora e assertiva de proteção à mulher.

Além de elaborar um programa, promover a integração feminina plena no mercado de trabalho também é uma forma de estimular o combate à violência doméstica. A relação de dependência econômica existe em 34% dos casos de agressão, segundo a Pesquisa Nacional. 53% das mulheres nesse recorte afirmaram que deixariam de morar com o homem em questão se alcançassem a independência financeira.

Equidade na licença parental

A luta por direitos iguais no ambiente de trabalho é abrangente. Uma forma inovadora e inclusiva de alcançar a equidade é beneficiar o homem com o aumento da licença paternidade, equiparando-a com a concedida à mulher.

De acordo com dados do IBGE de 2022, a mulher brasileira dedica-se, em média, 9,6 horas a mais do que os homens semanalmente em tarefas domésticas. Já um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da FEA-USP, relativo a 2022, identificou que 11,2 milhões de mulheres são obrigadas a deixar a força de trabalho para cuidar de filhos, pessoas com deficiência ou afazeres domésticos.

Estimular a maior participação masculina nessas tarefas através do aumento da licença paternidade é uma forma de colaborar para a equidade de gênero. Países como Suécia e Dinamarca adotam legislações de licença parental igualitárias, o que não é o caso no Brasil. Mas nada impede uma organização de inovar e adotar suas próprias regras, ampliando benefícios e combatendo assimetrias.

Licença menstrual

Promover um ambiente de trabalho inclusivo também é reconhecer as diferentes necessidades de cada colaborador. Uma questão de saúde que afeta grande parte das mulheres é a menstruação. Ela pode causar sintomas como cólica e dor na cabeça e no corpo.

Uma maneira inovadora e efetiva de preservar a saúde das trabalhadoras é através da licença menstrual. O afastamento temporário é concedido em caso de sintomas fortes decorrentes da menstruação.

A Espanha incorporou a licença menstrual aos direitos trabalhistas em 2023, contemplando mulheres e homens transsexuais. A lei não estipula um limite de dias de afastamento por mês. No Brasil, há um projeto em análise na Câmara, e algumas empresas têm adotado a prática por conta própria.

Importância da equidade de gênero

Alcançar um estágio em que mulheres e homens tenham direitos, oportunidades e responsabilidades iguais no ambiente de trabalho deve ser uma meta organizacional. A equidade de gênero faz parte do pilar social da agenda ESG, tão falada no mundo corporativo e tão essencial para o desenvolvimento sustentável.

O cenário nacional é de desigualdade entre os dois gêneros. Segundo o estudo “Criando Sinergias entre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o G20”, divulgado pelo IBGE, somente 38,8% das posições gerenciais no Brasil são ocupadas por mulheres. O número é acima da média dos países do G20 (30,58%), mas ainda é alarmante.

Além de colaborar para o ODS nº5 (Igualdade de Gênero), avançar em direção à equidade também é uma vantagem competitiva. De acordo com o relatório Diversity Matters Even More, da consultoria McKinsey, as empresas no quartil superior de representatividade feminina em cargos executivos são 39% mais propensas a obterem retornos financeiros acima da média no setor, em comparação às organizações no quartil inferior.

Equidade também aproxima as empresas da inovação. O artigo “Diversidade: inclusão ou estratégia?”, da Harvard Business Review, identifica que 76% dos funcionários de organizações preocupadas com diversidade – de todos os tipos, não somente de gênero – sentem abertura para propor ideias, enquanto nas organizações sem agenda pela diversidade o número cai para 55%.

A jornada cooperativista

As assimetrias no tratamento aos gêneros são uma realidade que precisa ser combatida em todos os campos da sociedade, incluindo no cooperativismo. Segundo o mais recente Anuário do Cooperativismo, somente 22% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, sendo que elas compõem 41% dos quadros sociais.

As dificuldades para alcançar a equidade são conhecidas. As barreiras culturais e sociais precisam ser superadas, desvencilhando-se de estereótipos que prejudicam oportunidades profissionais para mulheres. Em todos os setores do movimento, o percentual de mulheres na diretoria é menor do que no quadro associativo.

Nesse contexto onde ainda há muita margem para evolução, cada passo na direção correta é um sinal de progresso. E o cooperativismo está repleto de exemplos positivos de luta pelo empoderamento feminino.

Um deles vem da Coopfam (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região), que atua no setor cafeeiro em Minas Gerais. O projeto Mulheres Organizadas em Busca da Igualdade (MOBI) está ativo desde 2006 e promove ações pelo protagonismo das mulheres, como o lançamento de uma linha de café feminino e a formação de lideranças.

O Sistema OCB também visa fazer sua parte. O órgão promove reuniões do Comitê Nacional Elas pelo Coop, que atua em quatro pilares: formação e capacitação, representação institucional, intercooperação e elaboração de diretrizes. Um dos trabalhos do grupo é a divulgação de um manual para a implementação de coletivos femininos nas cooperativas.

Conclusão: ISO 53800 como ferramenta para a equidade de gênero

A norma ISO 53800 indica ações concretas para promover mudanças culturais e alcançar a equidade de gênero. Inovar na implementação dessas medidas é uma forma de estimular a diversidade e empoderá-la, tornando-se até mesmo uma vantagem competitiva.


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Fonte: InovaCoop

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