No último dia 6/11, um grupo de
mais de 50 pessoas com representantes de várias áreas visitaram a propriedade
da família do “Pai do Café Conilon”, Dário Martinelli (in memoriam), localizada
na Fazenda Damar, noCórrego do Poção-Nova Venécia-ES.
O objetivo foi conhecer a
propriedade e recordar um pouco mais da história desse ícone da cafeicultura
capixaba, que mobilizou o movimento da história de cultivo do café conilon do
Brasil e mudou a sorte de milhares de famílias.
A excursão à propriedade foi uma
promoção da Cooabriel como parte da programação de ações do XVIII Concurso
Conilon de Excelência, como referência a Dário Martinelli que participou em
vida de doze edições do concurso, em todos esteve entre os finalistas, chegando
a ser campeão por três edições, sempre em busca da qualidade do café conilon
por meio de processos tecnológicos de processamento via úmida, com o conilon
cereja descascado.
A Diretoria da Cooabriel esteve
presente, bem como outras lideranças do cooperativismo e da cafeicultura.
Também participaram equipes da
Cooabriel de várias áreas (mercado, técnica e de sustentabilidade,
administrativa, atendimento ao produtor, degustação, armazém), bem como
professores e estudantes do Ifes que estão atuando no projeto de qualidade do
café conilon.
A família do saudoso Dário
Martinelli, a esposa, Dona Sélia Gomes Martinelli e os filhos, Francisco de
Paula Gomes Martinelli e Ana Fabíola Gomes Martinelli, cooperados da Cooabriel,
recebeu a comitiva recordando a trajetória do patriarca.
Ao recordar a atuação de Dário
Martinelli na história da cafeicultura, o filho, Francisco (Tcheco) destacou
que apesar de conduzir outras atividades econômicas ele atua na cafeicultura
pela paixão com o café e recordou traços importantes da personalidade do pai
quando o assunto era buscar algo novo para a atividade. “O que mais me
impressiona nessa trajetória de meu pai, é a inovação, a busca constante, a
inquietação e de nunca achar que estava bom. Foi assim, depois de produzir
café, falou que poderia agregar mais valor e com isso conheceu e montou o
sistema de café despolpado há 20 anos. Tenho orgulho de continuar com essa
fazenda, de continuar despolpando normalmente cerca de 60% da produção”, disse.
“E pensar que o café conilon está
fazendo 50 anos (de cultivo) começando por São Gabriel. O Dário incentivou. Ele
mesmo começou plantando café no sítio em São Gabriel com acompanhamento do
técnico em lavoura com curvas de nível. Na vardade, o café conilon foi
distribuído pelo governador do Espírito Santo há mais de cem anos atrás aos
municípios, inclusive São Gabriel, mas ninguém experimentava porque imaginavam
que tratava-se de um veneno. Hoje, vemos o conilon como algo tão doce e tão
suave. Espero que daqui a 50 anos, existam novas projeções e visões. Continuem
que vale a pena”, disse a viúva de sr. Dário, Sélia Martinelli.
O presidente da Cooperativa
Regional de Cafeicultores em Guaxupé -Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de
Melo, esteve presente com uma comitiva da cooperativa. “Vim aqui para um
aprendizado na cafeicultura. Esses dias com a delegação da Cooxupé, aprendemos
muito do que é a história do conilon. Que evolução! A velocidade que o conilon
vai trazer em qualidade é uma coisa fantástica”, ressaltou.
A diretora executiva da
Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês), Vanusia
Nogueira, integrou a equipe e se emocionou com aspectos da trajetória do café
conilon com a história de Dário Martinelli. “A gente sente a energia dele no
orgulho de tudo que ele fez. Eu espero ainda trazer muitas alegrias de um
reconhecimento cada vez melhor desse pioneirismo de vocês, seja aqui no Brasil,
seja em Londres. Agradeço muito a vocês e à Cooabriel por estar dando a todos
nós a oportunidade de estarmos aqui conhecendo um pedacinho disso que já é
história e vai ser cada vez mais reconhecida”, afirmou.
O presidente da Cooabriel, Luiz
Carlos Bastianello, ressaltou a importância de Dário Martinelli para o
desenvolvimento de São Gabriel da Palha. “Ele foi prefeito em 1971 e nessa
época incentivou o plantio do café conilon. Também foi presidente da Cooabriel.
A história mantida e restaurada pela família e por dona Sélia é fundamental”,
finalizou.
DÁRIO MARTINELLI
Dário Martinelli Foi
considerado o “pai do conilon” no Espírito Santo, em função de esforços feitos
para superar a crise gerada, em São Gabriel da Palha, pelo Programa de
Erradicação do Café do Governo Federal na década de 60. Ele nasceu em
Santa Teresa, em 1933, e começou sua trajetória política no final da década de
1960 como vereador em São Gabriel da Palha. Exerceu o cargo de prefeito do
município por dois mandatos. Foi também deputado estadual e presidente da
Cooabriel por dois mandatos (01-04-93 a 31-03-99). Faleceu em 03 de setembro de
2015.
Dário Martinelli, adotou o café
conilon como causa. E tudo aconteceu, quando então prefeito de São Gabriel da
Palha, na década de 70, assumiu a prefeitura em meio ao impacto provocado pelo
Programa de erradicação geral do café, que resultou em um grande êxodo rural da
região de São Gabriel da Palha (que tinha terras cultivadas com café bourbon).
Preocupado com a realidade dos agricultores e na busca de socorrer o município
quase sem receita, encontrou uma luz no fim do túnel com o café conilon.
Ficou sabendo de uma área de café
localizada na região, que havia resistido à erradicação e que o café era
resistente à ferrugem. Era o café conilon. Assim, adquiriu sementes da lavoura
remanescente e formou na cidade, com a ajuda de técnicos, o primeiro viveiro de
mudas desse café onde iniciou o incentivo de plantio doando mudas aos
produtores, numa intensa, árdua, mas desafiante campanha de conscientização
entre os produtores, que teve continuidade com o prefeito sucessor, Eduardo
Glazar e apoio da indústria de café solúvel Realcafé, que estava sendo
construída no Estado por iniciativa do empresário, Jônice Tristão.
Para incentivar o plantio
tecnificado, Dr. Dário, implantou em seu sítio, a primeira lavoura técnica de
conilon da história, com o plantio em curvas de nível.
A história de cultivo do café
conilon, trouxe esperança aos produtores da região norte e noroeste capixaba
que encontraram na cultura a “tábua de salvação” para a permanência no campo,
na década de 70.
Além disto, estimulou a
indústria, deslanchou, atravessou fronteiras, despertou a pesquisa a altas
evoluções tecnológicas, movimentou a economia das cidades e o desenvolvimento
do Estado do Espírito Santo, que se tornou o maior produtor nacional da
variedade.