Médico e gestor Alexandre Ruschi, ex-presidente da Central Nacional Unimed e presidente da Unimed Federação ES
O reajuste dos planos de saúde
individuais que será autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) em maio deve ser o maior desde o ano 2000 em meio a alta dos custos e
maior demanda por procedimentos. Fontes do setor estimam que a Agência estipule
um aumento máximo de 15% a 18%, que pode ser o maior desde 2000.
CARTEIRAS DE PLANOS DE SAÚDE
INDIVIDUAIS AMARGAM PREJUÍZOS
No ano passado, o plano de saúde
individual foi o único que perdeu usuários, ficando abaixo de 9 milhões de
pessoas– cerca de um quinto dos 49 milhões de beneficiários no Brasil. Na
década de 1990 o cenário era inverso, com apenas um quinto dos usuários fora
dos planos individuais.
O que ocasionou essa migração das
modalidades de planos? Alexandre Ruschi, um dos principais gestores de saúde do
Brasil, avalia que a regulação da ANS sobre os reajustes dos planos individuais
provocou uma distorção no mercado e criou incentivos para que as operadoras se
concentrassem em planos corporativos.
Os planos de saúde individuais
têm seu reajuste regulado pela ANS, enquanto nos corporativos o reajuste é
livre. Como a ANS historicamente autoriza reajustes abaixo da inflação médica,
os planos individuais são um segmento menos desejado pelas operadoras de saúde
e as carteiras desses planos amargam prejuízos no Brasil. A UnitedHealth,
operadora que pagou R$ 3 bilhões para se livrar da carteira de planos
individuais no Brasil, sabe o tamanho do problema.
Para Ruschi, esse modelo
regulatório impede as empresas de operarem de forma viável. “Todo mundo percebe
que existe um problema grave no modelo de regulação dos planos individuais.
Eles têm um custo mais elevado para as operadoras, mas têm reajustes
limitados”, completa.
Essa supressão dos planos
individuais por distorção da ANS, diz Ruschi, representa um retrocesso.
“Afinal, nem todos os brasileiros estão ligados a uma organização para ter
acesso a planos de saúde corporativos”.
Em meio a esse cenário, ainda
existem alternativas. Para Ruschi, o mínimo que deve ser feito é uma reforma no
modelo de cálculo dos reajustes, que considere o fator regional, já que os
custos e o perfil de consumidor variam significativamente ao redor do Brasil
(hoje, o reajuste autorizado é igual para todo o país).
O ideal, porém, é dar mais liberdade para os
planos de saúde reajustarem livremente os valores de planos individuais, assim
como ocorre nos planos empresariais. “Se as operadoras tivessem liberdade de
decidir o reajuste, teríamos um modelo mais competitivo, com mais eficiência e
controle de custos, além de um relacionamento melhor com clientes. O regulador
pode simplesmente acompanhar, evitando abusos protegendo o consumidor”,
conclui.