Na conjuntura global, continuamos
preocupados com a inflação alta inserida em um ambiente de menor estímulos
econômicos e fiscais, crescimento mais fraco e o risco iminente das novas
variantes da covid conseguirem “escapar” da proteção conferida pelas vacinas.
Percebemos que mesmo diante do
aumento de número de casos de covid provocado pela variante Ômicron, os
Governos e Bancos Centrais vem adotando um discurso cada vez mais cauteloso com
relação a inflação e menor preocupação com a atividade econômica e o mercado de
trabalho, o que reforça a tese de tendência de alta nas taxas de juros e menor
liquidez no mundo.
Não podemos ignorar que esse
cenário é desafiador, em especial para países emergentes. Como sabemos, os
efeitos de políticas monetárias contracionista não são sentidos no curto prazo.
Portanto, as economias e os mercados devem sentir a força do movimento
sincronizado de aumento de juros ao longo desse e do próximo ano, sendo este um
dos principais vetores de risco no horizonte.
Nos Estados Unidos, diante da
inflação mais persistente o FED (Banco Central Americano) acelerou o ritmo de
retirada de estímulos (o chamado Tapering, que agora deve encerrar em março) e
sinalizou três altas nos juros para esse ano. Consideramos positivo que
finalmente o FED deixou de afirmar que a inflação seria transitória e passou a
demonstrar maior preocupação com a alta dos preços. A divulgação de dados
econômicos recentes indica que a economia americana acelerou seu ritmo de
crescimento. O mercado de trabalho está aquecido e os indicadores de confiança
na indústria e no consumo permanecem elevados. Porém, o risco está exatamente
na relação entre a ampla disponibilidade de empregos e a baixa procura para as
vagas disponíveis. Essa condição acaba por pressionar o aumento salarial, o que
deve trazer mais desafios para o objetivo do FED de controlar a inflação.
Na China, o Banco Central Chinês
(PBoC) indicou que pretende intensificar o apoio a economia real a fim de
suprir as deficiências de liquidez nos mercados e dar sustentação a atividade. De
fato, os indicadores demonstram que a economia ainda está em expansão e notamos
certa recuperação nas transações de imóveis na demanda por commodities
metálicas, bem como na indústria automotiva à medida que a escassez de
semicondutores diminui. Esse cenário pode trazer algum ânimo para os mercados
no curto prazo. Contudo, ainda é cedo para acreditar que os ventos são
favoráveis para a economia do país. Possivelmente, observaremos um menor
crescimento no longo prazo.
Na Europa, notamos que as
restrições de mobilidade impostas diante do avanço de números de casos de covid
e a alta nos preços de energia acabaram refletindo em indicadores de atividade
abaixo do esperado.
No Brasil, o prognóstico que 2022 será ainda
mais desafiador em razão das eleições já se tornou clichê. Ainda que possamos
admitir que parte desse risco está precificado, a incerteza fiscal atual, bem
como o regime a ser adotado pelo novo presidente e os ruídos políticos que
sempre acompanham as eleições deixa nosso país bastante vulnerável as mudanças
de humor dos mercados globais.