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Espírito Santo

Veja como o conilon chegou e transformou o ES em potência mundial na produção de café

A história que começou no século XVIII rende ao Estado atualmente os títulos de pioneiro e referência


04/09/2023 13:43 - Por Álberto Borém - A Gazeta
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Veja como o conilon chegou e transformou o ES em potência mundial na produção de café

Foto: Reprodução/A Gazeta

Para que uma árvore cresça de forma saudável e dê bons frutos é preciso, necessariamente, um acompanhamento próximo do produtor. O crescimento e a expansão do cultivo de café conilon no Espírito Santo envolvem, no entanto, muito mais do que uma terra fértil e interesse econômico.

Em meio a problemas financeiros e à criação de uma importante cooperativa capixaba, houve até influência do Papa João XXXIII. A história que começou no século XVIII rende atualmente ao Estado títulos de pioneirismo e referência. Se o assunto é café conilon, o Espírito Santo preenche boa parte das páginas desse livro.

Atualmente, segundo números do governo do Estado, seis em cada dez sacas da variedade produzidas em todo o Brasil, saem do Espírito Santo. O grão é um produto de extrema importância para a economia capixaba.

Em 2022 foram produzidas mais de 12,4 milhões de sacas de café conilon no Espírito Santo. Reunindo todas as lavouras, de Norte a Sul, a área de produção foi superior a 259 mil hectares, o equivalente a 259.174 campos de futebol.

Mas como um Estado com uma área geográfica tão pequena, se comparado a Minas Gerais e São Paulo, por exemplo, é tão significante na produção de café?

CICLO DO CAFÉ

Os livros de história contam que, apesar de tão predominante no tema, o Brasil não é o local de nascimento do café. O grão, originário da Etiópia, chegou ao país em 1727. O Brasil teve o chamado "ciclo do café", período em que o cultivo foi a principal atividade econômica brasileira. Entre 1800 e 1930, era o café quem tomava conta da cena.

O presidente do Sindicato da Indústria do Café do Estado do Espírito Santo (Sincafé), Egídio Malanquini, lembra que o grão foi plantado no início do século XX em terras capixabas, mas sem a relevância que atualmente apresenta. O governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912) é lembrado como um pontapé inicial para cultivo no Estado. Há mais de 100 anos, Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, era o centro das atenções.

O café virou uma febre tão grande no país que foi necessário criar um plano nacional para erradicação de algumas lavouras. Naquele momento, a oferta de café produzido era muito maior que a demanda interna. Isso gerava, por exemplo, queda no preço. Um grão que havia garantido grandes lucros anos antes, naquele momento, era visto como um problema. O plano de erradicação durou entre 1962 e 1967.

Uma encíclica do então Papa João XXXIII foi determinante para a expansão do cultivo do café no Espírito Santo. A quilômetros de distância, enquanto os brasileiros sofriam com a extinção das lavouras de café, a preocupação do representante da Igreja Católica era outra: o contexto internacional dominado pela ameaça nuclear.

Foi o medo de um conflito armado entre Estados Unidos e União Soviética, que naquela época travavam a Guerra Fria, que motivou o Papa João XXXII a escrever a encíclica "Pacem in Terris" - em tradução livre, "paz na terra". A carta publicada em abril de 1963 pela Igreja Católica tratava de verdade, justiça, caridade e liberdade. O papa chamou a atenção para o bem comum e o desenvolvimento da comunidade.

Para o presidente da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Luiz Carlos Bastianello, a relação entre a encíclica do Papa e a fundação da Cooabriel é direta. Ele explica que o contexto da época foi determinante para que a cooperativa fosse formada na cidade do Norte do Espírito Santo.

O recado enviado pelo Papa João XXXIII foi ouvido por muitos, entre eles, o padre Simão Civalero, então pároco de São Gabriel da Palha, responsável pela criação da Cooabriel. O religioso já promovia reuniões e cursos de cooperativismo, como forma de buscar soluções para os desafios dos produtores.

A fundação da Cooabriel aconteceu no dia 13 de setembro de 1963, meses após a emancipação da cidade que dá nome à cooperativa. A história da cooperativa se relaciona diretamente com a história do município e do cultivo de café no Espírito Santo. A criação da cooperativa abriu caminho para a expansão do café no Estado.

INCENTIVO AO CONILON 

O marco importante de fundação da Cooabriel não livrava os produtores rurais da difícil situação vivida na economia naquela época. De acordo com Bastianello, a cidade estava em um momento “delicado” economicamente falando.

Foi então que, no início da década de 1970, o então prefeito Dário Martinelli teve a ideia de incentivar o plantio de café conilon. O prefeito chegou a ser presidente da Cooperativa anos depois e é considerado o "pai" do conilon no Estado. A ideia dele mudou para sempre a história do Espírito Santo, sobretudo de São Gabriel da Palha.

Luiz Carlos Bastianello reforça que, apesar do bom resultado obtido, anos depois, o conilon era visto de forma negativa. Ainda segundo o presidente, outra variedade já havia sido plantado na região. Mas por questões climáticas na cidade, que tem temperaturas mais altas, não houve sucesso.

"Até aquele momento, o conilon era muito rejeitado pelo mercado, era tido quase como um veneno", afirma o atual presidente da Cooabriel.

A cooperativa iniciou as atividades com a abertura de uma mercearia para atender cooperados nas necessidades básicas. Bastianello lembra que a organização chegou a comercializar mandioca. Foi a necessidade financeira que ditava o ritmo da cooperativa, que se estruturou e se tornou referência em todo o Estado ao longo dos anos.


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Fonte: Rede Gazeta

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